O caráter rapsódico e amoroso dos “Poemas da amiga”, de Mário de Andrade

A busca pela identidade brasileira, de difícil definição, é constante na obra de Mário de Andrade, poeta e pesquisador que percorreu o interior do Brasil, procurando a “palavra” capaz de expressar a sua multiplicidade e a de sua nação. Nos versos do modernista, elementos populares têm lugar em meio à herança erudita, como se pode perceber, de forma ainda sutil, em Pauliceia desvairada (1922) e em Losango cáqui (1926), e com contornos expressivos em Clã do jabuti (1927), assim como no livro de poemas de 1 930, Remate de males, e nos volumes de poesia da fase madura do autor. O estudo analítico do último grupo de poemas do livro de 1930 — “Poemas da amiga” —, em contraponto com os grupos que o precedem — “Tempo da Maria” e “Poemas da negra” —, realizado neste trabalho, permite perceber em que medida a retomada de formas populares, como a estrutura rapsódica das Danças Dramáticas, moldam os poemas de Mário de Andrade, em que dilemas amorosos do eu lírico têm lugar. Em “Poemas da amiga”, ao mesmo tempo em que aspectos culturais formadores do caráter plural do brasileiro são retomados, é recuperada a temática amorosa e a estrutura também rapsódica do “Cântico dos cânticos”. Dessa forma, o lirismo, a sensualidade, o prazer, o desejo e a musicalidade do eu lírico são encenados por meio do ritmo dos bailados populares.

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