Reflexões em torno de sexo, género, língua e literatura. Questões culturais de hegemonia

As reflexões sobre a relação entre determinada sociedade, com certa visão cultural predominante, e a língua desta são já antigas. Contudo, ainda na actualidade, há questões que subsistem, como as manifestadas pela oposição entre “feminino” e “masculino” para a definição da identidade individual. Prendem-se com as perspectivas culturais que uma sociedade lança sobre o mundo, isto é, a realidade extra-linguística, implicando a distinção entre “sexo” e “género” ou a sua coincidência. Realça-se a opção preferencial da cultura ocidental da contemporaneidade pelo “género” e trata-se, aqui, de propor uma abordagem ao assunto, fundamentada numa exemplificação recente, sobretudo com base na Língua Portuguesa.

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Paródia e non-sense em “Darandina”, de Guimarães Rosa

O objetivo desse artigo consiste em analisar a paródia no conto “Darandina”, de João Guimarães Rosa, verificando de que maneira esta prática se caracteriza como variedade literária de non-sense (Deleuze). Para atingir os nossos objetivos, utilizamos este conceito e o de paródia (Bakhtin), tentando, dessa forma, compreender o processo de significação do texto. Por ser “Darandina” essencialmente metalinguístico, a nossa análise terá como ponto de partida dois níveis parodísticos básicos, o primeiro ligado à releitura da própria linguagem literária, e o segundo, uma releitura da estrutura do conto tradicional e, mais do que isso, à discussão ontológica da linguagem e do próprio conceito de Verdade apresentado pelo conto. Durante a análise, foi possível constatar que o conto “Darandina” se afirma como um jogo polifônico em que os níveis parodísticos apresentados nos levam, em última análise, à especulação ontológica não apenas da linguagem, mas também do estatuto da Verdade, como atomização de sentidos, o que resulta no non-sense do texto.

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A linhagem de Nabuco

Partindo da premissa de que a viagem à Europa, enquanto etapa necessária à formação intelectual, esteve diretamente associada a práticas de deslocamento entre escritores brasileiros na virada do século XIX para o XX, buscou-se averiguar como isso se dava em obras de autores do período nas quais a experiência viajante e sua escrita mostraram-se importantes. Nesse sentido, a análise da narrativa de Joaquim Nabuco em Minha Formação (1900) permitiu estabelecer um quadro de referências, visto que o escritor e político, ao assumir a cultura europeia como universal, representava exemplarmente a condição ambígua do intelectual sul-americano condenado ao exílio decorrente de seu duplo pertencimento: a América e a Europa. Em títulos de escritores como Gilberto Amado, João do Rio e Olavo Bilac, à maneira de Nabuco, observou-se que a viagem, fundamentalmente literária, encontrava na cultura letrada seu ponto de partida e chegada assim como funcionava como fator distintivo de uma elite intelectual. O estudo dos textos desses autores bem como da produção crítica e teórica a respeito do assunto possibilitou concluir que o percurso de letras derivado de uma matriz europeia caracterizou-se pelo movimento de verificação, para usar termo empregado por Gilberto Amado. Verificar, enquanto confirmação do já sabido, denotava o caráter conservador de uma viagem dirigida à manutenção da cultura europeia como modelo e, consequentemente, do privilégio de grupos sociais que se distinguem, entre outras coisas, pela formação letrada.

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No meio do caminho havia cadernos: oralidade, língua e literatura na Guiné-Bissau e em Moçambique

 

A partir da tensão entre a língua portuguesa, a oralidade e as línguas nacionais africanas, como as de Moçambique e da Guiné-Bissau, este texto aborda os muitos conflitos oriundos da dominação colonial que resultam na escolha de escritores sobre em qual delas escrever literariamente. Assim, pretende refletir sobre as hierarquias, formas de dominação e de resistência no panorama das literaturas destes países, levando em consideração movimentos culturais como “Negritude”, associados ao colonialismo e ao pós-colonialismo na discursividade sobre literatura e nação. É nossa intenção demonstrar como a escrita literária revela a atmosfera de incompletude do romance como gênero literário e a representação das diferenças expressas pelas múltiplas realidades retratadas pela literatura.

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