Neste artigo abordamos as tensões políticas que permeiam a teorização contemporânea da função mediadora da crítica de arte, que se encontra hoje cindida entre o diálogo democratizante com o público empírico e a formação do público futuro – numa tensão cujo viés pedagógico tem persistido desde o romantismo. Definimos tal dicotomia como um conflito valorativo na avaliação das produções merecedoras de inclusão no debate artístico. A partir de um diálogo com o sociólogo norte-americano Howard Becker, analisamos o caráter compulsório da inscrição insti tucional da crítica, o que mitiga as suas pretensões à universalidade, à objetividade e, acima de tudo, ao distancimento da atualidade calcado na confiança em seus próprios valores. Após situarmos as proposições de Becker em meio ao amplo movimento de releitura política da tradição estética ocorrido após 1968, defendemos a democratização do campo artístico como a referência político-normativa ideal para o debate artístico atual. Isso leva à proposição de que a dicotomia valorativa que hoje tensiona a crítica de arte pode ser destravada mediante o reconhecimento da finitude da crítica: na condição de construção operada por um observador pertencente a um sistema intelectual específico, a sua objetividade se mostra uma versão plausível de uma realidade inter-subjetiva, construída numa interlocução intra-institucional com o exterior da própria instituição, com consequências para a sua relação com a produção de conhecimento. Analisamos, por fim, como o reconhecimento desta condição livra a crítica da polarização político-valorativa ao reformular a sua relação com o universo dos objetos.