Partindo da premissa de que a viagem à Europa, enquanto etapa necessária à formação intelectual, esteve diretamente associada a práticas de deslocamento entre escritores brasileiros na virada do século XIX para o XX, buscou-se averiguar como isso se dava em obras de autores do período nas quais a experiência viajante e sua escrita mostraram-se importantes. Nesse sentido, a análise da narrativa de Joaquim Nabuco em Minha Formação (1900) permitiu estabelecer um quadro de referências, visto que o escritor e político, ao assumir a cultura europeia como universal, representava exemplarmente a condição ambígua do intelectual sul-americano condenado ao exílio decorrente de seu duplo pertencimento: a América e a Europa. Em títulos de escritores como Gilberto Amado, João do Rio e Olavo Bilac, à maneira de Nabuco, observou-se que a viagem, fundamentalmente literária, encontrava na cultura letrada seu ponto de partida e chegada assim como funcionava como fator distintivo de uma elite intelectual. O estudo dos textos desses autores bem como da produção crítica e teórica a respeito do assunto possibilitou concluir que o percurso de letras derivado de uma matriz europeia caracterizou-se pelo movimento de verificação, para usar termo empregado por Gilberto Amado. Verificar, enquanto confirmação do já sabido, denotava o caráter conservador de uma viagem dirigida à manutenção da cultura europeia como modelo e, consequentemente, do privilégio de grupos sociais que se distinguem, entre outras coisas, pela formação letrada.