Nos passos de Quintana, uma possível micro-história literária

As questões que nos guiam no desenvolvimento da pesquisa têm por objetivo esclarecer que poemas de Mario Quintana, publicados em periódicos anteriormente a seus lançamentos em poemários, retornam ou não às edições em livros. Antes de reunir seus poemas em livro, Quintana contribuiu regularmente com Ibirapuitan: Mensário de Sociedade, Literatura e Arte. 1 5 volumes de Ibirapuitan se apresentam como importante manancial de fontes primárias da literatura. Ao procurarmos rastros neles impressos, proporcionando dados pouco conhecidos, podemos revisar uma etapa muitas vezes negligenciada na história editorial do poeta brasileiro. Assim, perseguindo a hipótese de que grande parte dos poemas constantes em seus livros A rua dos cataventos (1940) e Espelho mágico (1951 ) antes circularam no periódico em destaque, propomos uma micro-história literária, em contraposição aos moldes das mais difundidas sínteses histórico-literárias que, no Brasil, não perdem o vigor editorial. Para tanto, divisamos perspectivas de diálogo entre a historiografia literária, por um lado, e os campos da cultura, da história, da historiografia, por outro lado. A partir do processamento dos dados da pesquisa com fontes primárias, efetivamos consultas a outras edições e fontes, indicadas nos momentos oportunos, a fim de incrementar
análises ao conjunto de fontes elencadas para estudo, as quais igualmente depõem sobre a biobibliografia de Mario Quintana e permitem revisá-la. O material consultado permite-nos contar uma história e compor um escrito histórico-literário cujos princípios metodológicos se fundamentam na “micro-história” italiana, especialmente nas considerações de Carlo Ginzburg.
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Em busca da autenticidade: a propósito de Os Maias, de Eça de Queirós

Em A Teoria do Romance, livro paradigmático de Georg Lukács, o autor conclui que a forma narrativa romance pode ser lida como uma estória de heróis problemáticos, isto é, de indivíduos cujo interior estaria em conflito permanente com o espaço exterior, ou seja, com o mundo que os circunda. Para Georg Lukács, o herói problemático seria aquele que está em busca de valores autênticos em um mundo degradado, fator que faria de tal busca, também ela, degradada, vista a grande influência do espaço sobre a personagem. Partindo da teoria de Lukács, este artigo visa a ler o romance Os Maias, do escritor realista Eça de Queirós, apontando como os personagens dessa longa narrativa, ao tentarem contribuir para a reforma e para o  aprimoramento da sociedade de seu tempo — que eles consideravam deficiente em diversas esferas —, acabam por empreender uma busca de valores autênticos claramente marcada pela degradação e pela inautenticidade.

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O caráter rapsódico e amoroso dos “Poemas da amiga”, de Mário de Andrade

A busca pela identidade brasileira, de difícil definição, é constante na obra de Mário de Andrade, poeta e pesquisador que percorreu o interior do Brasil, procurando a “palavra” capaz de expressar a sua multiplicidade e a de sua nação. Nos versos do modernista, elementos populares têm lugar em meio à herança erudita, como se pode perceber, de forma ainda sutil, em Pauliceia desvairada (1922) e em Losango cáqui (1926), e com contornos expressivos em Clã do jabuti (1927), assim como no livro de poemas de 1 930, Remate de males, e nos volumes de poesia da fase madura do autor. O estudo analítico do último grupo de poemas do livro de 1930 — “Poemas da amiga” —, em contraponto com os grupos que o precedem — “Tempo da Maria” e “Poemas da negra” —, realizado neste trabalho, permite perceber em que medida a retomada de formas populares, como a estrutura rapsódica das Danças Dramáticas, moldam os poemas de Mário de Andrade, em que dilemas amorosos do eu lírico têm lugar. Em “Poemas da amiga”, ao mesmo tempo em que aspectos culturais formadores do caráter plural do brasileiro são retomados, é recuperada a temática amorosa e a estrutura também rapsódica do “Cântico dos cânticos”. Dessa forma, o lirismo, a sensualidade, o prazer, o desejo e a musicalidade do eu lírico são encenados por meio do ritmo dos bailados populares.

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O caso autoral de Luiz Pacheco

Este artigo tem como objetivos principais os de estabelecer um paradigma avaliativo dos meandros autorais em que incorre um escritor cuja obra é tendencialmente lida como autobiográfica e aplicar essa visão crítica ao caso de Luiz Pacheco, autor cuja obra tem levantado questões e problemas que dificultam a leitura distanciadamente crítica dos seus textos. Destacaremos os principais momentos em que este autor questiona e, ao mesmo tempo, supera a leitura tendenciosa de que tem sido alvo a sua obra, possibilitando ao leitor vislumbrar a concretização do projeto aberto pelos surrealistas, especialmente os portugueses, protagonistas da “única real tradição viva” e detentores da derradeira transgressão da arte moderna, a que sente já uma saturação da influência e que remodela a vida em função da arte, não a arte em função da vida.

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Ramón del Valle-Inclán, encenador moderno, em sintonia com Appia, Meyerhold e Gordon Craig

Neste artigo, busca-se aproximar o dramaturgo galego Ramón del Valle-Inclán de seus contemporâneos Adolph Appia, Gordon Craig e Vsevolod Meyerhold, no tocante aos esforços de renovação do teatro europeu do início do século XX. Para tanto, faz-se uma análise comparativa entre as elaborações teóricas e práticas de Appia, Craig e Meyerhold e as de Valle-Inclán, sobretudo aquelas incorporadas às obras do ciclo esperpêntico. Por meio dessa análise conclui-se que Valle-Inclán possui afinidades com os colegas estrangeiros, especialmente, no que se refere ao uso criativo dos recursos de iluminação e de atuação.

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O voo é com os pássaros. Elogio a Valdemiro, Sequeira, Margarida e Hélder.

Fim da primeira trilogia de António Lobo Antunes, Conhecimento do inferno (1980) encerra o ciclo da viagem até o fundo dos fundos. Conservando os espaços e mantendo um continuum com os livros Memória de elefante (1979) e Os cus de Judas (1979), o escritor vai, desta vez, mais além no sentido contestatório das coisas ao falar de dois infernos que refletem no mesmo espelho: a guerra colonial em África e a prática psiquiátrica em Lisboa, obsoleta e desumanizante. Este livro não trata do mundo da loucura, mas da angústia daqueles que se mantém submersos em corredores bolorentos, da indiferença, do desamor e de aves distorcidas, sem direitos nem esperanças.

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Paródia e non-sense em “Darandina”, de Guimarães Rosa

O objetivo desse artigo consiste em analisar a paródia no conto “Darandina”, de João Guimarães Rosa, verificando de que maneira esta prática se caracteriza como variedade literária de non-sense (Deleuze). Para atingir os nossos objetivos, utilizamos este conceito e o de paródia (Bakhtin), tentando, dessa forma, compreender o processo de significação do texto. Por ser “Darandina” essencialmente metalinguístico, a nossa análise terá como ponto de partida dois níveis parodísticos básicos, o primeiro ligado à releitura da própria linguagem literária, e o segundo, uma releitura da estrutura do conto tradicional e, mais do que isso, à discussão ontológica da linguagem e do próprio conceito de Verdade apresentado pelo conto. Durante a análise, foi possível constatar que o conto “Darandina” se afirma como um jogo polifônico em que os níveis parodísticos apresentados nos levam, em última análise, à especulação ontológica não apenas da linguagem, mas também do estatuto da Verdade, como atomização de sentidos, o que resulta no non-sense do texto.

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A poesia de Guilherme de Almeida: de tradição e silêncio

Este trabalho busca demonstrar como a poesia de Guilherme de Almeida percorre a tradição lírica galego-portuguesa — Guilherme reutilizou e reatualizou fôrmas poéticas trovadorescas, humanistas, quinhentistas, românticas; também praticou poesia moderna e pós-moderna — convergindo em direção a uma concisão cada vez mais intensa, que valoriza cada vez mais as elipses e o silêncio como forma expressiva. Para tanto, num percurso diacrônico, são analisados poemas de vários momentos da carreira do poeta, até se chegar a seu último livro, Margem, datado de 1969 e inédito até 2010, todo ele escrito formado por micropoemas em que a condensação significante demonstra a concepção de poesia que Guilherme adotara em sua maturidade artística

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A herança dos irmãos Grimm na literatura juvenil contemporânea: a “chick lit” e as princesas do novo milénio

No final do século XX e primeira década do XXI, surgiram em Portugal coleções e títulos dirigidos de forma particular às adolescentes, inseridos na tendência literária designada por “chick lit”. Neste artigo, pretende-se analisar de que forma estas narrativas, à semelhança dos contos de fadas, contribuem para a inculcação de valores patriarcais e para a formatação das atitudes das adolescentes em relação a si próprias, aos elementos do sexo oposto e ao casamento.

Tendo como corpus um conjunto de narrativas juvenis de autores portugueses inseridas nesta tendência literária e publicadas entre 1995 e 2010, procedeu-se à sua análise no contexto abrangente das relações que estabelecem com as normas sociais. O nosso estudo centrou-se nas personagens femininas, de forma particular no seu discurso e no seu perfil ideológico-cultural, bem como nas relações de género.

Verificou-se que a globalidade destes livros perpetuam estereótipos relacionados com a imagem e a submissão feminina, veiculando, à semelhanças dos contos dos irmãos Grimm, valores da ideologia patriarcal.

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A bandeira sueva do Reino da Gallaecia revista

Em datas recentes uma reconstrução da bandeira sueva do reino da Gallaecia teve certo sucesso, no que se refere à sua difusão. A juízo do autor deste trabalho a bandeira que se tem difundido contém erros devidos a uma transcrição parcial e deficiente da fonte. Com base no relatório original, e atendendo a critérios históricos e antropológicos, este artigo propõe uma outra interpretação que recolhe contextualmente tanto os dados descritivos
do documento como uma visão reintegradora no quadro específico da cultura tradicional galaica.
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